O que caracteriza uma demência?
Segundo os critérios do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-5), a demência, atualmente designada como perturbação neurocognitiva major, implica um declínio cognitivo significativo em uma ou mais áreas (memória, linguagem, atenção, funções executivas, capacidades visuo-espaciais ou sociais), que interfere com a independência funcional (American Psychiatric Association, 2022).
Etiologias e tipos de demência
As demências podem ter origem degenerativa, vascular, infecciosa, metabólica ou traumática. Entre as mais comuns destacam-se:
Doença de Alzheimer: caracteriza-se pelo comprometimento progressivo da memória episódica e, mais tarde, de outras funções cognitivas (Jack et al., 2018).
Sinais de alerta e importância do diagnóstico precoce
O diagnóstico precoce é crucial para planear intervenções adequadas, atrasar a progressão dos sintomas e promover uma melhor qualidade de vida (Livingston et al., 2020). Alguns sinais de alerta incluem:
É importante diferenciar entre o envelhecimento normal e o declínio patológico. A avaliação neuropsicológica desempenha um papel central nesta distinção, ao permitir identificar padrões específicos de défice e preservação cognitiva (Lezak et al., 2012).
Intervenção e tratamento
Embora ainda não exista cura para a maioria das demências, há estratégias farmacológicas e não farmacológicas que visam mitigar os sintomas e preservar a funcionalidade o maior tempo possível. Os inibidores da colinesterase (ex.: donepezilo, rivastigmina) e a memantina são os fármacos mais utilizados, particularmente na Doença de Alzheimer (Birks & Harvey, 2018).
As intervenções não farmacológicas, como a estimulação cognitiva, reabilitação neuropsicológica, terapia ocupacional e apoio psicossocial à família, têm demonstrado eficácia na melhoria do funcionamento global e na redução do impacto dos sintomas (Olazarán et al., 2010; Huntley et al., 2015).
Envelhecimento ativo e prevenção
Estudos longitudinais evidenciam que fatores como exercício físico regular, dieta equilibrada (como a dieta mediterrânica), estimulação cognitiva contínua, controlo dos fatores de risco cardiovascular e envolvimento social reduzem significativamente o risco de desenvolver demência (Ngandu et al., 2015; Livingston et al., 2020).
Conclusão
As demências são uma das principais causas de incapacidade em idade avançada, com impacto não só no indivíduo, mas também na família e na sociedade. O conhecimento sobre os seus sinais precoces, a importância do diagnóstico diferencial e a existência de estratégias de intervenção e prevenção são essenciais para uma abordagem centrada na pessoa, promotora da dignidade e da qualidade de vida.
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Referências bibliográficas
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